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Reparo na ponte Internacional pode levar de seis meses a um ano para ser concluído

Após a liberação parcial do trânsito de caminhões na ponte internacional entre Uruguaiana, na fronteira oeste do Estado, e Paso de los Libres, na Argentina, na manhã desta terça-feira (20), a expectativa, agora, é pela assinatura de um decreto do Ministério da Infraestrutura para autorizar o início dos reparos no rompimento de uma viga, que causou rachaduras e interrompeu o fluxo de cargas no principal corredor rodoviário de mercadorias entre o Brasil e o país vizinho. A informação é da diretora-executiva da Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais (ABTI), Gladys Vinci, que afirma ter recebido um comunicado da pasta na tarde desta terça-feira (20).

GZH tentou contato com o ministério, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem. O objetivo, antecipa Gladys, é agilizar os trâmites de contratações de serviços de restauração, que deverão ser executados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), de maneira emergencial. O documento é aguardado para esta quarta-feira (21).

Os prazos para a conclusão da medida podem oscilar de seis meses a um ano. Durante esse período, ações de contingência como as adotadas desde a manhã desta terça-feira (20), com trânsito em meia pista, velocidade máxima de 20 km/h, distanciamento de 100 metros entre os veículos em travessia e revezamento do sentido (Brasil/Argentina), a cada meia hora, deverão permanecer. Alguns ajustes, entretanto, já estão em análise.

É o que diz o vice-presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Rio Grande do Sul e presidente da Câmara Empresarial Argentino-Brasileira do Estado, Fábio Ciocca, que não descarta solicitar a ampliação do funcionamento aduaneiro por 24 horas (atualmente das 8h às 22h30min), enquanto a reforma estiver em andamento. A ideia, segundo ele, é autorizar uma porção noturna do trafego das importações.

Caso isso ocorra, Ciocca afasta a necessidade de desviar o fluxo para outras alternativas de translado, caso da ponte São Borja (RS) / Santo Tomé (ARG), a cerca de 200 km de Uruguaiana, mas que atua em com outro perfil de cargas e é gerida por uma concessão privada. A intenção é amenizar ao máximo eventuais prejuízos decorrentes do comprometimento do fluxo regular de mercadorias, que contabiliza, em média, 250 mil caminhões anualmente — o equivalente a quase 700 por dia. As demais opções (veja no mapa abaixo) seriam com transporte por balsas, que não comportam as demandas de grande parte dos produtos desembaraçados em Uruguaiana.

A preocupação encontra amparo em outros números. É que a Travessia Uruguaiana/Paso de los Libres movimentou US$ 6,24 bilhões de janeiro a setembro de 2022. A cifra representa um terço do volume financeiro total (US$ 20,9 bilhões) registrado pelo comércio exterior entre Brasil e Argentina (maior parceiro comercial do RS e terceiro do país), em igual período. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

Monitoramento 

As medidas emergenciais, pensadas para garantir o bom funcionamento do corredor logístico, ainda não são consensuais entre os setores envolvidos. A diretora da ABTI, Gladys Vinci, lembra que o funcionamento da aduana por 24 horas, como defendem os despachantes, por exemplo, faria com que o trânsito noturno das importações abarrotasse o pátio de caminhões nas manhãs seguintes. O fato geraria contratempos para as exportações e, por isso, a medida teria de ser melhor avaliada.

Ela explica que, no momento, o protocolo colocado em prática — com o revezamento de sentidos a cada meia hora — deverá ser monitorado até o final desta semana. Segundo a dirigente, é possível que, em determinados períodos, por falta de cargas em espera, não seja necessário utilizar a totalidade do tempo destinado às importações. Deste modo, os minutos sobressalentes seriam redirecionados para o fluxo oposto: o das exportações.

Além disso, Gladys atenta para a impossibilidade de fazer com que a Receita Federal atue em turno integral, tendo em vista que, de acordo com a diretora da ABTI, já há dificuldade de pessoal para cumprir com as 13 horas de expediente regular. Por essas razões, argumenta, será preciso eliminar gargalos e instalar sistemas eletrônicos capazes de garantir mais eficiência nos despachos aduaneiros.

— Vamos ter que respeitar a estrutura da ponte e extrair dela o maior proveito. Usar a crise para encontrar soluções e fazer o que deve ser feito para otimizar os processos. É o que se espera de uma fronteira: agilidade na fiscalização — resume.

Nova ponte 

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Uruguaiana (ACIU), Luis Oscar Kessler acompanha com preocupação o desenrolar dos fatos. Segundo ele, a entidade, assim como o Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Rio Grande do Sul, deverá intensificar as cobranças por manutenção permanente na ponte, que foi inaugurada em 1947.

Kessler vai além e afirma que, dada a relevância do corredor para o comércio exterior gaúcho e nacional, o episódio “talvez” sirva de incentivo para ampliar as discussões sobre a construção de uma nova ponte entre o município da Fronteira Oeste e Paso de los Libres, na Argentina.

— A falta de manutenção gera essa situação de risco e nos mostra que quem tem uma ponte no estado de conservação em que está a nossa pode ficar sem nenhuma num piscar de olhos. Isso reforça a necessidade de uma segunda ponte, mais moderna e que atenda melhor as demandas — analisa.

Por Rafael Vigna

Foto Lauro Alves / Agencia RBS

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